sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Tipos de "amores".



Todo dia morre um amor. Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas e vários vexames , capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos. Morre em uma cama de motel após o mero saciar da “necessidade” física e nada emocional ou em frente à televisão de domingo fingindo ver algo interessante , até por que de domingo a noite interessante no máximo é a televisão funcionar. 
Morre sem beijo antes de dormir, sem bom dia regados a bandejas de café da manhã na cama , durante o dia sem mãos dadas, durante a noite o silêncio na mesa do jantar , quando muito reunidos na mesa e ao deitar na cama virar e dormir sem o calor dos corpos unidos ,sem olhares compreensivos , sem o brilho encantador no olhar cúmplice , sem o encanto do faiscar emocionado de um olhar que fazia o mundo parar no desejo da entrega.
Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas,palavras e declarações cada vez mais menos manifestadas, e o pior ...beijos que esfriam aos poucos, no sabor do primeiro beijo que mal relembramos . Morre da mais completa e letal inanição ,com gosto de lágrima nos lábios... com gosto de solidão acompanhada e mal desejada.
Todo dia morre um amor. Às vezes com uma explosão em ira incontida , quase sempre com um suspiro de auto piedade de não merecer mais um ...mais uma tentativa...mais uma desilusão. Todo dia morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um gradativo fracasso de saber que, mais uma vez,independente de nossa luta um amor morrerá. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa esfregando em nossas “caras” verdades invisíveis até a trágica queda. E esta é a lição: amores morrerão se não forem fortes o bastante , se não virem em pacotes prontos e superficiais, há de se amar em essência para que sobreviva.
Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os livros tão docemente emprestados passam a ser “pegados” , os cds maravilhosos passando a ser “aquelas coisas daquelas músicas daqueles cantores “ , ai chega na frase “ se dei não lembro...devolva”...como se devolver “coisas” fosse eficiente para esquecer sentimentos.
E os ponteiros tiquetaqueando no relógio em solidão presente, o silêncio insuportável depois de uma discussão: todo crime deixa evidências... e para crime há penas , as vezes eternas.
Todos nós fomos assassinos ou assassinados um dia. , há quem se refugie em explicações casuais e impessoais inventando alibes existenciais justificando de maneira altamente complexa o simples do fim dos sentimentos e outros preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho papão que são suas “masturbações mentais” tão ou menos reais quanto o bicho papão... Outros confessam sua culpa em altos brados e fazem de pinico os ouvidos dos infelizes velhos amigos ou recém conhecidos numa mesa de bar. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso, difundindo ao mundo ilusões impossíveis e fatais aos corações sem cicatrizes de que não fica cicatriz no peito de quem ama, sim ficam cicatrizes , ficam as marcas profundas de noites insones entre lágrimas e pores homéricos da incompreensão pelo egoísmo que faz vitimas ao seu bel prazer, feito “serial killer”.
Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: Estilo “nobres” corcéis feridos... me mate antes que eu me suicide...sem razão mas com um propósito ...cicatrizar mias rapidamente .
Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, morto-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Sobrevivem graças aos filhos , a “união da família “ ao conforto material , a boa vida , a boa mesa mas nunca mais a boa cama .Estes não querem ser sacrificados e, à semelhança da lenda dos zumbis, também se alimentam de cérebros e corpos humanos e definharão até se tornarem laranjas chupadas plenamente descartáveis...e essas “laranjas” atendem por nome de amantes ...não os que amam , mas amantes de sexo rápido, depois de tomar um banho vestem sua “dignidade” e vão cuidar da casa.
Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias raros momentos felizes ...será que foram mais uma mera criação de nossa mente fértil .
Existem, por fim, os amores-fênix. Nessa denominação humana onde me reconheço , pois eles são aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, dos preconceitos da sociedade, das contas a pagar, da paixão que quase escasseia com o decorrer dos dias, da limpeza da casa , das calcinhas penduradas no chuveiro, das toalhas molhadas sobre a cama , da pizza de alho e alitche (?!),ridiculamente das brigas que não levam rigorosamente a nada e lugar algum e principalmente da sogra na sala em pleno final de campeonato suprimindo assim necessária e compulsoriamente maravilhosos e necessários palavrões a mãe ... ... ... do juiz (também) .

Amores que ressuscitam das cinzas a cada fim de dia, a cada leão morto , a cada olhada cúmplice e por isso perduram, teimosos, belos, cegos e avassaladoramente intensos... “Existem duas mil razões para não te querer ...e apenas uma para te amar... e eu sigo te amando” Mas estes são tão raríssimos que há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão brilhante ,pura e rara que jamais poderiam ter existido na realidade, a não ser como necessárias e lúdicas lendas. E é esse encanto transvertido de amor que eu quero dar pra você , quero receber de você e acima de tudo quero viver com e para você, por todo o ... SEMPRE!!!

Valeria a coragem que falta.

Paz , saúde e amor!

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