terça-feira, 7 de abril de 2009

Me adapto com pouco...mas quero muito ! Sonho ainda mais !


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
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Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer.......
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo.
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Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
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Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso em tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
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Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim.....
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas-
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas-,
E quem sabe se realizáveis!
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O mundo é para quem nasce para o conquistar.
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo.
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre......
Serei sempre o que não nasceu pra isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem uma porta ao pé de uma parede sem porta...........
Crer em mim? Não, nem em nada.
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E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
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Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
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Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei.......
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas
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Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei o quê moderno-não concebo bem o quê-
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
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Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu........
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses - porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso-;
Talvez tenha existido apenas.
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Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.

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Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
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Eu morrerei........
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isso se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente.
..................
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

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Acendo um cigarro.....
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria......
A libertação de todas as especulações.
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
...............
Enquanto o Destino me conceder, continuarei fumando.
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ÁLVARO DE CAMPOS (FERNANDO PESSOA)

É quase temerário tentar escrever algo depois das palavras de Pessoa , mas as vezes sou desprovido de senso do ridículo ...então me atreverei.

A continua busca insaciável do ... do que mesmo? pode ser disso...ou daquilo ?

É incrível o grau de insatisfação que se cria apenas pelo fato de querer ...mesmo sem saber ao certo  o que ou como ter o inimaginável... essa "gastura" que dá insones noites com olhos inchados e profundas marcas pela alma.

A que falta faz o simples querer , que imensa agonia proporciona a ingratidão da ganância desmedida... esse veemente desejo de buscar algo que amenize esse chacra em nossas almas que é a solidão ... as vezes acompanhada.

Triste o sorriso que não alegra , o olhar que não emociona... triste é tocar sem nunca ter tido ... é sonhar sempre acordado... é nunca dormir... PAZ.

São nossos  fantasmas imensamente maiores que os fantoches que mantemos em nossas hortas... espantando os possíveis corvos da maldade , inveja e aproveitadores sentimentais... as carências são parte mais dos fantasmas do que dos corvos ... e se eles , os corvos , se alimentam das carências... o que sobrará de real? Devaneios...devassados com o peito ofegante de correr em busca de cada vez mais espantar..os corvos? 

Risos de córdeis e lágrimas do enterro da nossa pseudo dignidade intelectual ao aceitar suor ao invés de nuances poéticos? Dando mais valor a força bruta que talha a moldura do que a sutileza da aquarela...mas um não completa o outro , a moldura é só moldura ... a aquarela na expressão de uma arte conceito ou expressão lirica do máximo sentimento é vista e revista em olhos sedentos de um amor real ou ilusionário.

Ainda que saudades emocionem sem o apego da esperança seria o eterno pranto da incapacidade... perdoar ... se desprender e ir rumo ao futuro que de certo deverá existir... mas sem esperar dele o que ele nunca poderá nós dar ...aquilo que independente do tempo espaço , dessa tridimensionalidade , estará sempre dentro de nós ... nossos medos e certezas... nosso cerne... nossa real essência de navegadores... desbravadores... pois se erros houverão  sucessos hão de existir , assim se faz perfeita a dualidade desse universo ... "orquestrado" pelo maior regente...DEUS! Que há de ser nosso maior e único refúgio sempre!

Paz , saúde e DEUS !

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